Bebê morre porque fanática religiosa impediu transfusão

Um recém-nascido morreu no HGF (Hospital Geral de Fortaleza) porque sua avó, uma fanática religiosa, não deu autorização para que os médicos salvassem a criança por intermédio de uma transfusão de sangue.

A avó é seguidora da igreja fundamentalista Testemunhas de Jeová, cujos dirigentes (autodenominados Corpo Governante) proíbem que os fiéis sejam submetidos a esse procedimento da medicina porque acreditam que contraria a Bíblia.

A mãe do bebê pediu ao hospital que aplicasse a transfusão, mas, por ela ser menor de idade, tem 15 anos, prevaleceu a determinação da avó.

Assistentes sociais do hospital solicitaram ao MPE (Ministério Público Estadual) que interviesse no caso, mas não houve tempo porque o bebê não resistiu à sua doença.

Sebastião Ramos de Oliveira, presidente da ABRAVIPRE (Associação Brasileira de Apoio às Vítimas de Preconceito Religioso), afirmou ser “revoltante” saber que “mais uma vida foi ceifada por uma doutrina religiosa planejada, ensinada e aplicada em terras reconhecidamente laicas”.

A Promotoria de Justiça de Defesa da Infância e Juventude do Ministério Público vai denunciar (acusação formal à Justiça) a avó por crime. “Entendemos que a avó, ao não permitir que a criança tomasse sangue, assumiu o risco pela morte da criança, é isso pode ser tratado como homicídio doloso”, disse a promotora Antônia Lima.

Oliveira, que já foi Testemunha de Jeová, quer também quer que a Torre de Vigia (espécie de pessoa jurídica da igreja) também seja responsabilizada pela morte do bebê, conforme representação que ele enviou ao MPE.

Para ele, não seria justo a punição de uma pessoa que, por natureza, é refém de uma ideologia religiosa, extremamente fundamentalista. Quem deveria responder judicialmente por mais este crime é a Associação Torre de Vigia de Bíblias e Tratados (espécie de pessoa jurídica da igreja), que representa a religião no Brasil, além da Associação Bíblica e Cultural de Fortaleza, que no Estado do Ceará representa a congregação.

O presidente da ABRAVIPRE explica que as duas entidades são protagonistas de doutrinas que violam a lei da liberdade religiosa e os direitos fundamentais da pessoa humana, o que, inclusive, já foram denunciadas pelos Ministérios Públicos Federal e Estadual por crime de preconceito religioso. Lei Federal nº 7.716.

"Sabemos muito bem que o "Corpo Governante" se autodenomina "O representante de Deus na terra", disse. "Na visão dessa mãe, como poderia ela ir contra o que acredita ser uma ordem direta do próprio Deus? A pressão exercida e o medo de ser "condenada" por "desobedecer a Deus" e/ou de sofrer as consequências por ser desassociada [expulsa da igreja] é tão forte que alguns acabam cedendo. Eles preferem pôr o fervor religioso à frente da própria vida em si. O mal tem que ser cortado pela raiz.

A tendência da Justiça é conceder autorização para a transfusão de sangue, isto quando, obviamente, a solicitação feita por médicos ou parentes é apresentada a tempo de salvar o paciente.

Em setembro de 2013, por exemplo, o juiz Elleston Lissandro Canali, de Tubarão (SC), autorizou um hospital a fazer a transfusão de sangue em um bebe filho de Testemunhas de Jeová.

No entendimento do juiz, o artigo 5º da Constituição assegura a todos o direito à vida, com prioridade sobre outros direitos, incluindo o da liberdade de crença.

Fonte: Paulopes

Comissão aprova que igrejas possam questionar leis no STF

da Agência Câmara

João Campos (PSDB-GO), autor do projeto, é líder
da Frente Parlamentar Evangélica
A Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados aprovou, nesta quarta-feira, 27, a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 99/11, do deputado João Campos (PSDB-GO), que inclui as entidades religiosas de âmbito nacional entre aquelas que podem propor ação direta de inconstitucionalidade e ação declaratória de constitucionalidade ao Supremo Tribunal Federal (STF)

Entre estas entidades estão, por exemplo, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), o Supremo Concílio da Igreja Presbiteriana do Brasil e a Convenção Batista Nacional. A PEC será analisada por uma comissão especial e, em seguida, votada em dois turnos pelo plenário.

Atualmente, só podem propor esse tipo de ação o presidente da República, a mesa do Senado Federal, a mesa da Câmara dos Deputados, a mesa de Assembleia Legislativa ou da Câmara Legislativa do Distrito Federal, governadores de Estado ou do Distrito Federal, o procurador-geral da República, o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil, partidos políticos com representação no Congresso Nacional e confederações sindicais ou entidades de classe de âmbito nacional.

Para João Campos, a PEC significa uma “ampliação da cidadania e do acesso à Justiça”. “Alguns temas dizem respeito diretamente às entidades religiosas. A questão da imunidade tributária, por exemplo, assim como a liberdade religiosa e o ensino religioso facultativo, entre outros. Se tivermos em algum momento alguma lei que fere um desses princípios não teríamos como questionar isso no Supremo. Com a proposta, estamos corrigindo uma grave omissão em que o constituinte incorreu ao deixar essa lacuna”, argumentou o autor da PEC 99/11.

Bancada evangélica é ovo do nazismo, afirma frei Betto

O escritor e teólogo Frei Betto disse que a bancada evangélica — um movimento político-religioso fundamentalista, ressaltou — ameaça a democracia brasileira porque equivale ao “ovo da serpente” dos anos 30 do qual nasceu o nazismo.

Naquela época, na Alemanha, disse, “depois que a coisa esquentou é que muito gente se deu conta” do monstro que tinha sido gerado.

A Frente Parlamentar Evangélica, à qual Frei Betto se referiu, é presidida pelo deputado João Campos (PSDB/GO). É composta por deputados (a maioria) e por senadores de diferentes partidos, no total de 79.

Ela tem se destacado por ser contra, por exemplo, as propostas de igualdade aos homossexuais. Se pauta principalmente por uma leitura conservadora da Bíblia. Um de seus integrantes, Marco Feliciano, é presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minoria da Câmara.

Frei Betto (foto), ao falar a cerca de mil lideranças católicas no 9º Encontro Nacional Fé e Política, no final de semana, no campus da UCB (Universidade Católica de Brasília), se mostrou preocupado com os “segmentos religiosos [evangélicos] que estão cada vez mais partidarizados”.

“Não tenho nada contra os evangélicos, tenho contra essa bancada.”

Defendeu o laicidade: “O Estado e os partidos não devem ter religião, mas respeitar a diversidade do pluralismo religioso”.

“Precisamos abrir o olho porque está sendo chocado no Brasil o poder fundamentalista de confessionalização da política”, afirmou. “Isso vai dar no fascismo.”


Fonte: Paulopes

Pastor é condenado a 7 anos de prisão por estupro de jovem

por Guto Pereira para o Diário Web

O pastor Ezechiel de Oliveira e Silva foi condenado a oito anos e 7 meses de prisão pelo estupro de uma fiel que frequentava sua igreja em Jales (a 586 km de São Paulo). O crime aconteceu em 2008 e na época a vítima S.T.M. tinha 14 anos. A decisão é do Tribunal de Justiça de São Paulo e saiu no dia 7 de novembro.

A secretaria do TJ expediu ofício para a 3ª Vara Judicial de Jales informando sobre o acórdão, que também determina a prisão imediata do réu. O pastor deve cumprir a pena inicialmente em regime fechado. A sentença é assinada pelo desembargador Julio Caio Farto Salles.

Ezechiel deixou a cidade de Jales com a família – ele é casado e tem um filho – logo após o escândalo e seu paradeiro atual é desconhecido.

Além do estupro ele já foi condenado por tráfico de drogas. Atualmente estaria num município da Grande São Paulo.

Em 2010, no julgamento em primeira instância, ele foi absolvido pelo juiz José Pedro Curitiba. Alegou que a menina havia inventado a “estória” porque tinha rompido o namoro com seu filho.

O Ministério Público Estadual recorreu da sentença e agora conseguiu no TJ uma condenação por unanimidade.

O relator Farto Salles afirma que o acusado se aproveitou das necessidades econômicas que a família da vítima passava – além de frequentar a igreja mãe e filha prestavam serviços domésticos na casa do pastor – para abusar da garota.

Ezechiel chegou a pagar parte dos custos da festa de 15 anos da menina. Em depoimento a mãe de S. justificou a presença do acusado no aniversário. Disse já saber dos fatos, “mas não quis tirar a festa da filha, pois os amigos já haviam sido convidados, sendo ainda parte das despesas paga por ele, que também devia dinheiro por conta de serviços da faxina prestados pela testemunha na igreja”.

O acórdão confirma ainda que, embora não tenha havia conjunção carnal, em três ocasiões o réu tentou abusar da vítima e em duas delas chegou a tocar seus órgãos íntimos. A ação traz ainda o depoimentos de outras duas testemunhas que confirmaram terem sido assediados pela pastor.

Em alguns vídeos na internet Ezechiel aparece pregando em várias igrejas evangélicas do Estado, como Assembleia de Deus entre outras.

A direção da Assembleia de Deus em Jales negou que ele faça parte do quadro de pastores e disse desconhecer o caso.

A reportagem também tentou contato com dois advogados do acusado, mas teve retorno de apenas um deles. Debora Andrade Ghirotti, que hoje trabalha em Lençóis Paulista, confirmou que fez a defesa na fase inicial do processo, mas deixou o caso há mais de dois anos.

Segundo ela, o atual patrono da ação é o advogado José Bonifácio dos Santos, do município de Osasco. Bonifácio foi procurado em seu escritório, mas o telefone não atendeu as ligações.

Políticos evangélicos adotam oratória do terror, diz estudiosa

por Magali do Nascimento Cunha

Lideranças políticas evangélicas continuam usando a boa fé de pessoas das igrejas para desinformar, confundir e criar medo com a finalidade de alcançar apoio para impedir a votação de projetos no Congresso Nacional que avançam no campo dos direitos humanos e sociais.

Os exemplos mais recentes são a renovada campanha do deputado federal presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara pastor Marcos Feliciano contra a aprovação do Projeto de Lei da Câmara 122/2006, e a intensa defesa do senador Magno Malta da diminuição da maioridade penal.

Com um argumento a mais aos já apresentados, em especial o de que o PLC 122 fere a liberdade de expressão (grupos que pregam a homossexualidade como pecado passariam a ser enquadrados como homofóbicos), de acordo com o deputado Feliciano, o texto atual sob a relatoria do senador Paulo Paim (PT-SP) abre brecha legal para a prática da pedofilia.

Qualquer pessoa que acesse o texto e o teor da proposta e tenha bom senso reconhece que a denúncia do presidente da Comissão de Direitos Humanos é incabível, afinal uma questão básica: se a pedofilia é um crime, segundo as leis do país, como uma lei que nasce no poder legislativo poderia incitar a pedofilia?

O deputado Feliciano alega que o estímulo à pedofilia está presente em dois termos acrescentados ao texto do PL 122: “[O senador] Paulo Paim deu parecer favorável ao substitutivo e apesar de incluir no Projeto a ‘proteção ao direito dos religiosos’, acrescenta as palavras ‘orientação sexual’ e ‘gênero’. Com o acréscimo das palavras o texto não só desconstrói os valores da sociedade brasileira, como também abre precedente para a proteção ao crime de pedofilia”, alegou o deputado federal pelo PSC-SP. Confira aqui o relatório do senador Paim.

Vale registrar que tal crítica da parte do deputado Feliciano emergiu após as recentes declarações públicas do senador Paulo Paim de que as demandas de grupos religiosos, após várias audiências públicas, foram atendidas no relatório para que ficasse claro que o direito constitucional de liberdade de crença deve ser garantido e preservados os espaços de culto.

Nesse sentido, a pregação religiosa que usa textos sagrados para ensinar que a prática homossexual é pecaminosa não pode ser julgada e continuará sendo livre para ser realizada (diga-se, assim como se dá com a pregação contra o divórcio ou o controle da natalidade na Igreja Católica ou contra o serviço militar ou a transfusão de sangue entre as Testemunhas de Jeová).

O que será julgado são manifestações discriminatórias que passam por impedimento no acesso a locais públicos e privados abertos ao público e de manifestações de afeto nesses mesmos locais, injúria (agressão verbal, insultos) e violência física por conta de orientação sexual e de gênero. O novo artigo 8 do projeto, destacou Paim, acrescenta, no que é referente ao impedimento de manifestações afetivas em local público ou privado aberto ao público: "resguardado o respeito devido aos espaços religiosos".

A atitude apelativa do deputado Feliciano para encontrar, forçosamente, traços de incitação à pedofilia no projeto leva a pensar que o que se defende, de fato, não é garantir liberdade de expressão para a compreensível defesa dos bons costumes e da família tradicional. Com esta ação, estaria sendo defendido, sim, o direito de insultar e injuriar pessoas homossexuais, identificadas por uma parcela de religiosos não apenas como pecadoras, mas como pervertidas e criminosas pedófilas, e, de quebra, permitir que violência física, inclusive com morte, continue sendo praticada contra esses cidadãos.

Sobre a questão de que a liberdade de expressão para a defesa da família será negada caso a nova lei seja aprovada, o jornal Folha de São Paulo, já em 2010, ouviu seis especialistas em direito constitucional: o ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal, um segundo ministro do STF, que falou em caráter reservado, Ives Gandra da Silva Martins, Virgílio Afonso da Silva, Conrado Hübner Mendes e Octavio Luiz Motta Ferraz. São unânimes: o projeto é constitucional e não ameaça a liberdade de expressão.

O principal argumento é o fato de a Constituição dizer em dois artigos (3º e 5º) que a discriminação e o preconceito deverão ser combatidos pela lei. É o que já ocorre, por exemplo, com a prática do racismo, cuja condenação legal é aceita desde 1988. O que o projeto anti-homofobia faz é considerar a atitude homofóbica tão criminosa quanto a racista. Não há a "criação" de um crime novo.

É importante compreender que o projeto encaminhado pela Câmara, que desde a primeira apresentação tem oposição da Bancada Evangélica, propõe tratar a homofobia como crime e, depois de ter passado por várias comissões e relatorias, contrariamente ao que divulgam lideranças evangélicas, não é um projeto exclusivo sobre homofobia.

Na versão que está por ser votada no Senado, o PLC122 em conjunto com a Lei nº 7.716 tornará crime qualquer discriminação contra negros, idosos, pessoas com deficiência, contra grupos religiosos e também a que seja praticada por gênero, identidade de gênero e por orientação sexual, não beneficiando somente um grupo. Conheça todo o processo que envolve o PLC 122 clicando aqui.

São vários os espaços de religiosos na internet que estão replicando a recente acusação do deputado Marco Feliciano e disseminando desinformação e a retórica do terror. Títulos como "Lei que extingue a família será votada na próxima semana" ou "Projeto que ameaça a familia voltará a ser votado" estão entre as muitas chamadas para que pessoas das igrejas atentem para o tema e iniciem uma cruzada contra a legislação anti-homofobia, que consequentemente defende a garantia do direito à violência verbal e física contra pessoas que vivem a sexualidade diferentemente dos padrões sexuais tradicionais.

Classificando menores infratores como “homens travestidos de crianças”, o senador evangélico Magno Malta (PR-ES) defendeu no Plenário do Senado, em 12 de novembro, a sua Proposta de Emenda à Constituição (PEC) nº 90/2003, que tem como objetivo aprovar a redução da maioridade penal para 13 anos, no caso de crimes hediondos.

O projeto está sendo analisado pela Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) e o voto do relator, senador Ricardo Ferraço (PMDB-ES), é pela rejeição. Na sessão de 12 de novembro, os membros da comissão pediram vista coletiva do projeto, que tramita em conjunto com outras cinco proposta sobre o mesmo tema.

Em plenário, Magno Malta informou que deverá propor uma alteração a Ricardo Ferraço, na tentativa de viabilizar a aprovação da PEC, para incluir a previsão de criação de centros de treinamento esportivo nos quais os jovens infratores com idade a partir de 13 anos possam ser internados para praticar esportes de alto rendimento simultaneamente ao cumprimento de suas penas criminais.

Magno Malta alegou que a sociedade, sobretudo a população de baixa renda que enfrenta diretamente o problema da violência praticada por menores, não ter sido ouvida para opinar sobre a necessidade de redução ou não da maioridade penal. "Tem que debater com o povo na rua, com quem está no ponto de ônibus, com quem vive a insegurança da noite e do dia. Vá perguntar para o motorista de ônibus. Vá perguntar para o trocador de ônibus. Esses sim, conhecem a violência imposta por esses homens travestidos de criança, que estão nas ruas sob a proteção de meia dúzia de pessoas que filosoficamente entendem que eles [os menores] tem que continuar matando", disse.

Esse é um dos principais assuntos tratados pelo senador nos últimos meses, o que teria como objetivo, segundo analistas, tratar de um tema que move emocionalmente a opinião pública a fim de fortalecer o Partido da República(PR) para ampliar espaço na Esplanada num eventual segundo mandato de Dilma Rousseff ou fortalecer seu próprio nome, com vistas às eleições para governador de seu estado, o Espírito Santo.


Fonte: Paulopes

Deputado propõe distribuição de 'Kit Bíblico' às escolas de SP

O deputado Rodrigo Moraes (foto), da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, apresentou projeto de lei que cria o “Kit Bíblico Educativo”.

Se passar pelas comissões relacionadas ao tema e obtiver aprovação do plenário, o kit, às custas dos contribuintes, será distribuído à rede de ensino básico público e privado, para estudantes, portanto, de 6 a 12 anos. Ele conterá histórias escritas com base na Bíblia.

Moraes é do PSC e está ligado à Igreja Mundial do Poder de Deus. Seu argumento é de que o projeto visa “amenizar os conflitos nos lares, nas escolas, nas ruas e na sociedade em geral”.

Ele acredita que poderá resolver problemas sociais com a Bíblia. Disse que jovens vêm tendo “problemas psicossomáticos” e sendo “encarcerados” por desconhecerem a “palavra de Deus”.

Moraes destacou que o seu projeito de lei leva em conta “as diversas religiões existentes no país”. Mas não explicou por que o kit tem como base o livro sagrado apenas dos cristãos.

Fonte: Paulopes

Igrejas pressionam Estados a isentar templos de imposto sobre água e luz

Uma ofensiva de bancadas evangélicas pelo país levou ao menos 11 Estados a criar ou a analisar a isenção de ICMS para igrejas em contas de luz, água e telefone.

Leis sobre o assunto já foram sancionadas em cinco Estados (Santa Catarina, Paraná, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande do Sul). As dos dois últimos são as mais recentes, neste ano.

A reportagem é de Felipe Bachthold e publicada pelo jornal Folha de S. Paulo de 19 de outubro de 2013.

As justificativas vão desde promover "maior eficácia à liberdade religiosa" a contribuir para o trabalho social das igrejas. Em algumas Assembleias, como a de São Paulo, a proposta ainda está sob análise dos deputados.

Entre os autores há parlamentares do PRB, partido ligado à Igreja Universal. Alguns projetos são "clonados" e têm trechos iguais em diferentes partes do país.

A Folha procurou os governos dos Estados onde a lei já existe e questionou sobre quanto deixa de ser arrecadado com a isenção. Apenas Santa Catarina fez uma estimativa: o governo afirma que há uma perda de R$ 2,8 milhões por ano com o benefício dado a 9.500 templos.

Em outros Estados mais populosos, como o Rio, primeiro a adotar a norma, o valor tende a ser superior. Nas contas de energia e telefone, o ICMS cobrado costuma ser de 25% do valor da despesa.

No Paraná, o governo local recorreu ao Supremo Tribunal Federal para derrubar a lei, mas perdeu a causa.

No julgamento, em 2010, os ministros consideraram que a Constituição garante imunidade a impostos a "templos de qualquer culto".

Em ao menos quatro Estados, governadores já vetaram leis desses tipo porque entenderam que a Constituição fala em isentar a tributação sobre renda e patrimônio, e isso não envolve um imposto de mercadorias e serviços.

Em Mato Grosso, a lei concedendo o benefício foi vetada no governo passado, mas a bancada evangélica voltou a tentar emplacá-la agora.

Deputados autores desses projetos afirmam que a cobrança de ICMS é ilegal e que não estão criando um benefício novo, mas regulando algo previsto na Constituição.

O deputado estadual Gilmaci Santos (PRB-SP), autor de proposta sobre o assunto, diz que a ideia veio de grupos evangélicos com os quais tem contato. "Em igrejas maiores, com vários templos, as contas ficam lá em cima e pesam bastante", diz Santos, que é pastor da Universal.

O procurador do Estado do Paraná Cesar Binder, que atuou na causa no STF, afirma que, ao estabelecer uma lei como essa, o governo abre mão de receita e corre o risco de desrespeitar a Lei de Responsabilidade Fiscal.

"Pode levar ao descontrole. Se todas as aquisições [compras] são isentas ou não incidem tributo, vira o caos. Todo dia são realizadas milhares de operações por essas pessoas, templos e igrejas."

Em Estados como Pernambuco e Paraíba, a iniciativa não avançou no Legislativo.

O professor de sociologia da USP Ricardo Mariano, que pesquisa religiões, vê na iniciativa "corporativismo" da bancada evangélica, que coincide com o aumento do poder político desse grupo.

Ele afirma que os deputados eleitos como representantes de igrejas precisam mostrar serviço para fiéis e tentam obter privilégios, como financiamento público para suas atividades. "A isenção do ICMS é parte de um fenômeno mais amplo", diz.

Fonte: IHU
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